Últimos Artigos

Getúlio Vargas: 3 razões para amar (ou odiar) o que ele fez com o Brasil que você vive hoje


Getúlio Dornelles Vargas foi um dos mais influentes personagens da história do Brasil República. Morto há mais de 60 anos, ainda é considerado por boa parte da população como o melhor presidente que já comandou o país. Sua participação na construção política do Brasil redefiniu em diversos elementos o posicionamento do Estado Nacional. 

Principal nome da Revolução de 1930 (aquela que pôs fim à República do Café com Leite), Getúlio se manteve no poder desde então até a metade da década de 1950. Ele sabia como poucos se articular e adaptar sua forma de governar a cada diferente contexto. Sua influência foi além dos cargos oficiais: mesmo fora do poder (após sua morte ou quando o Estado Novo foi derrubado), foi capaz de fazer de sua vontade a vontade do povo, seja pela sua própria figura ou pela de seus herdeiros políticos. 

Criador de importantes instituições do governo, como a Petrobras, de leis que regem o mundo do trabalho e pioneiro no uso da propaganda para atingir seus interesses, Getúlio Vargas moldou o Brasil que vivemos hoje. Boa parte dos acontecimentos do presente são herança direta ou indireta de suas decisões. Isso pode ser para alguns uma contribuição positiva, entretanto é completamente possível atribuir interpretações negativas a esse legado tão presente num cenário de qualidade duvidosa que é política nacional.  
#1 - Getúlio "inventou" o populismo no Brasil 
(clique nas imagens para ampliar)
(Foto: Museu Joaquim José Felizardo / Fototeca Sioma Breitman).
Cartilha getulista publicada em 1940 pelo
Departamento de Imprensa e Propaganda 
(Acervo CPDOC FGV).
"Pai dos Pobres" e "Mãe dos Ricos": não é por qualquer razão que ele ficou conhecido assim. Poucos políticos no mundo tiveram capacidade semelhante de barganhar com os diferentes setores da sociedade. Vargas adotou estratégias que visavam obter o apoio popular, para isso, instituiu o DIP (Departamento de Imprensa e Propaganda), que centralizou toda produção publicitária nacional, controlando (e censurando) tudo o que fosse de interesse do governo. Além disso adotou medidas para o fortalecimento de sua imagem, divulgando os feitos do governo sempre com especial destaque a seu nome. Um ótimo exemplo disso foi a criação da "Hora do Brasil", um programa de rádio diário de transmissão obrigatória em que Vargas anunciava diretamente ao povo suas realizações. Nunca antes na história do Brasil um chefe de Estado se fez tão próximo de cada brasileiro.

Em diferentes ocasiões, Vargas teve a sensibilidade de se antecipar a demandas distintas. Concedia direitos às camadas populares ao mesmo tempo que limitava seu poder de mobilização. Era uma espécie de autoritarismo anestesiado, visto que a aprovação de seu governo, considerado uma ditadura entre 1937 e 1945, sempre se manteve em níveis elevados. Uma prova disso é o chamado "Movimento Queremista", que foi uma mobilização popular em defesa da permanência de Getúlio na presidência (em 1945 uma intervenção militar interrompeu o Estado Novo, restabelecendo a democracia no país, com a ressalva de que as eleições convocadas proibiam a candidatura de Vargas, em evidente tentativa de evitar que ele fosse eleito).

Comício do Movimento Queremista no Largo do Carioca, Rio de Janeiro, 1945 (Acervo CPDOC FGV).
Especialistas associam a forte utilização da propaganda - enquanto ferramenta de articulação do governo - como uma das muitas características que assemelham seu estilo de governo aos polêmicos regimes fascistas que se constituíram na Europa no mesmo período (como o de Adolf Hitler, na Alemanha, e Benito Mussolini, na Itália). A partir daí fica clara a recorrente crítica ao uso do populismo pelo seu caráter considerado manipulador. O modus-operanti do populismo, apesar dessa incontestável conotação pejorativa, continuou a se fortalecer como estratégia de governo no mundo pós-fascismo, sendo praticado por representantes de diferentes correntes políticas. No Brasil não foi diferente.

A maior parte dos presidentes que vieram após Vargas (salvo o período do Regime Militar, em que os presidentes eram eleitos de forma indireta) procuraram replicar sua estratégia populista. Em observação mais detalhada ainda é possível alinhar alguns dos mais populares políticos do período democrático (antes e após o Golpe) como herdeiros diretos da imagem de Getúlio: Juscelino Kubitschek, João Goulart, Leonel Brizola e Tancredo Neves. Todos eles participaram de alguma forma da Era Vargas e colheram posteriormente a simpatia do povo.

No cenário atual, ainda como numa linhagem de sucessão de alianças políticas, vemos o ex-presidente Lula (que no início de sua escalada política obteve o importante apoio de Leonel Brizola) assumir prestígio similar ao conquistado por Getúlio. Por outro lado, entre as principais lideranças oposição, está Aécio Neves, neto de um ex-Ministro de Getúlio aclamado como mártir da Redemocratização do Brasil: Tancredo Neves.

O carisma do ditador Adolf Hitler também teve base em estratégias populistas (Getty Images).

#2 Foi Getúlio o responsável pelas principais conquistas trabalhistas no Brasil
Manifestação comemorativa do Dia do Trabalho no estádio São Januário, Rio de Janeiro,1940 (Acervo CPDOC FGV).

Em um país há poucas décadas livre da escravidão e num contexto mundial de expansão dos ideais comunistas, Getúlio Vargas assumiu importantes compromissos com a classe trabalhadora: criou o "Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio", responsável por iniciar a modernização do Brasil. Entre outras atribuições, instituiu a chamada Consolidação das Leis Trabalhistas que junto a uma nova categoria jurídica, a Justiça do Trabalho, regulamentava questões sensíveis referentes ao trabalho. 

Entre seus principais feitos neste sentido é possível destacar a jornada de trabalho de 8 horas diárias ou 48 horas semanais, a regulamentação do trabalho das mulheres e crianças e o salário mínimo (que foi calculado de acordo com as necessidades básicas de sobrevivência do trabalhador: alimentação, habitação, vestuário, higiene e transporte). 

Considerado um grande conciliador entre empregadores e empregados, Vargas oficializou e assumiu o controle dos sindicatos patronais e operários. Em análise a essa estratégia, o Doutor em História Social, Adaberto Peranhos, apelida o trabalhismo varguista de "antídoto contra a luta de classes". Segundo ele, é gritante o contraste entre as tensões no Brasil antes e depois do suicídio do estadista (o que não quer dizer que não tenha ocorrido movimentos sociais em seu governo). Isso demonstra como o trabalhismo de Vargas foi capaz de "domar" as reivindicações operárias, o que mais uma vez pode caracterizar o viés manipulador de seu governo. 

A imagem acima talvez seja icônica para ilustrar a crítica que se faz sobre a desarticulação da classe trabalhadora: "Trabalhador sindicalizado é trabalhador disciplinado". Essa faixa estava presente na celebração do Dia do Trabalhador no estádio municipal do Pacaembú, em São Paulo, 1944 (Acervo CPDOC FGV).

(Arquivo do Movimento Operário do Rio de Janeiro)
O varguismo mais uma vez se aproxima do fascismo quando o assunto é o mundo do trabalho. Estudiosos associam os fundamentos da CLT brasileira à "Carta del Lavoro" italiana, instituída por Mussolini cerca de uma década antes

O Dia do Trabalhador é outro bom exemplo que pode ser utilizado para compreender a força de desarticulação do trabalhismo carregado de propaganda à moda varguista: o que antes era uma data de crítica e protesto, ano após ano, foi remodelada como uma festividade. Vargas assumiu o protagonismo do 1º de Maio de modo a ofuscar o próprio trabalhador enquanto homenageado. A cartilha ao lado demonstra  bem esta tese: a figura de Getúlio tem o maior destaque, e a própria chamada do 1º de Maio convoca uma concentração em homenagem ao "Benemérito Presidente Vargas".



#3 Foi Vargas o fundador das principais empresas estatais

Cartaz da III Convenção Nacional em Defesa do Petróleo, em favor do monopólio estatal do recurso. Rio de Janeiro, 1952. Até o início do anos 1950, a produção e a distribuição de petróleo brasileiro eram controladas por companhias americanas, como a Standart Oil e a Texaco. Em reação a isso, Vargas e outros grupos nacionalistas uniram forças com a campanha ‘O Petróleo é nosso’.
Tema permanente no debate político do Brasil Contemporâneo, as empresas controladas pelo governo, ou simplesmente estatais, também têm suas raízes em Getúlio Vargas. Uma das principais características de seu governo foi a busca pela centralização e fortalecimento do Estado. Assim, a criação de empresas para o monopólio governamental de setores estratégicos da indústria de base era uma das maiores prioridades de seu projeto político.

Entre as empresas governamentais que nasceram nesse contexto, é possível citar a Eletrobras, Petrobras, Vale, BNDES (antigo BNDS), Banco do Nordeste e outros. Um dos principais argumentos utilizado por Getúlio contra seus opositores era o de que o governo deveria firmar sua autonomia contra as empresas estrangeiras. Com uma considerável oposição instalada, Vargas utilizou de seu prestígio para encabeçar uma campanha voltada para ganhar a opinião pública (principalmente no que se refere ao petróleo), acusando os opositores de "entreguistas" por desejarem a abertura do país ao capital estrangeiroComo era de se esperar, a campanha popular de Getúlio (que ficou conhecida pelo slogan "O petróleo é nosso") obteve o efeito desejado e a Petrobras foi fundada com sucesso. 


Getúlio Vargas mostra a mão suja de petróleo da refinaria de Mataripe, Bahia, durante a inauguração da Petrobras, 1953. Outrora motivo de orgulho para os governistas, a Petrobras hoje protagoniza (na chamada Operação Lava Jato) um escândalo de corrupção que pode mudar a opinião pública sobre as empresas estatais (Foto: Acervo AL SP).
Mesmo com todo seu prestígio, Getúlio não pode abrir mão de sua última cartada para derrotar seus adversários políticos: em 1954, insistentemente acusado pela imprensa por corrupção (e já sem a força da censura do Estado Novo), ele decidiu tirar a própria vida. Com efeito de "prova incontestável de sua inocência", sua popularidade, antes desidratada pela forte campanha de denúncias da imprensa de oposição, foi restaurada instantaneamente com o suicídio. Foi sua última grande manobra política. Os chamados udenistas (membros da União Democrática Nacional, liderados pelo jornalista e maior adversário de Vargas, Carlos Lacerda) estavam arruinados. O Brasil estava órfão. A população se alternava entre fúria e luto, jornais foram incendiados, Lacerda era visto como um assassino. 

“A campanha subterrânea dos grupos internacionais aliou-se à dos grupos nacionais revoltados contra o regime de garantia do trabalho. A lei de lucros extraordinários foi detida no Congresso. Contra a justiça da revisão do salário mínimo se desencadearam os ódios. Quis criar liberdade nacional na potencialização das nossas riquezas através da Petrobras e, mal começa esta a funcionar, a onda de agitação se avoluma.”
Trecho da Carta Testamento de Getúlio Vargas


Enfurecida com a notícia do suicídio de Getúlio, população incendeia carros do jornal oposicionista O Globo, responsável por acusações ao estadista, 1954 (Acervo Agência O Globo).

Em tempos de crise ética e econômica é muito natural repensar o projeto político de uma nação. A História demonstra, em diversos episódios, a negação ou reafirmação de valores como forma de lidar com situações de instabilidade. Isso não quer dizer que a mudança seja necessariamente um elemento positivo para a sociedade: há muitas variáveis. No Brasil, populismo, direitos trabalhistas e a privatização de estatais são assuntos que dividem opiniões e instalam tensão no Congresso Nacional. 


Lula cumprimenta populares durante uma cerimônia do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) em Lauro de Freitas, na Bahia, 2010. Essa foto foi feita por Ricardo Stuckert, fotógrafo oficial do Governo Lula.

Na conjuntura atual, é notável a semelhança entre o que Getúlio Vargas representou para a sociedade com o que Lula representa. Antes crítico declarado do projeto político de Getúlio, Lula adotou em seu governo posicionamento semelhante, Programas como o polêmico Bolsa Família rendem a ele (pelos seus opositores) o adjetivo de populista no sentido mais pejorativo possível. Por outro lado, governistas também o comparam a Vargas por razões mais românticas, como é o caso do jornalista Paulo Henrique Amorim:

'"Aos poucos, ao longo de sua carreira de líder trabalhista, Luís Inácio Lula da Silva se reconciliou com Getúlio Vargas. Nem sempre foi assim. O líder metalúrgico tinha uma visão sindicalista da herança da Consolidação das Leis do Trabalho. Ele acusava Vargas de ter fomentado o peleguismo e a burocratização dos sindicatos. Quando Lula se tornou Presidente, se deu conta, com as tentativas diárias de derrubá-lo, que a trajetória de Vargas tinha sido outra: lutar pelos pobres e defender o interesse nacional".
Paulo Henrique Amorim 

Nessa inevitável comparação, até mesmo o próprio ex-presidente Lula relacionou em diversas ocasiões sua situação diante de opositores com a vivida por Getúlio. A mais recente declaração se deu em um evento da Central Única dos Trabalhadores (CUT) no Rio de Janeiro:


"Pra saber o que está acontecendo agora no Brasil, é preciso entender o que aconteceu com JK, com Getúlio, com Jango e o que tentaram fazer comigo na presidência. (...) Eles fazem agora o que sempre fizeram a vida toda; a ideia básica é criminalizar, pela imprensa, porque aí já começa o processo pela sentença. (...) Toda vez que na historia da humanidade se tentou criminalizar a política, o resultado foi sempre pior. Veja a Operação mãos Limpas na Itália!"
Luís Inácio Lula da Silva durante ato da CUT no Rio de Janeiro (2015)

(Laércio/Folhapress)
A configuração política do Brasil foi completamente influenciada pela passagem de Getúlio pelo poder. Ainda vivo na boca do povo e dos novas lideranças que surgem década após década, seu nome parece estar blindado de qualquer atribuição negativa. Por outro lado, a contestação das heranças de seu projeto de poder se faz cada vez mais recorrente. Gostar, ou odiar, a forma como se faz política no Brasil, seja de oposição ou situação, também passa pelo entendimento do legado de Vargas. Salvo de reducionismos, a exemplo do Coronelismo e do mais recente Período Militar, é importantíssimo ressaltar a influência de outros capítulos da história do Brasil na constituição e prática do poder em nosso país.


Equipe de produção do artigo:

Beatriz de Miranda Brusantin
Doutora em História Social pela Universidade Estadual de Campinas
Coordenação de Produção e Pesquisa Histórica
Bruno Henrique Brito Lopes
Graduando em História pela Universidade Católica de Pernambuco
Coordenação de Redação e Edição
Camilla Fernandes Nunes
Graduanda em História pela Universidade Católica de Pernambuco
Pesquisa Histórica e Produção de texto
Eduarda de Albuquerque Ferreira Barbosa
Graduanda em História pela Universidade Católica de Pernambuco
Pesquisa Histórica e Produção de texto
Raphael Esteves de Almeida Jacinto
Graduando em História pela Universidade Católica de Pernambuco
Supervisor executivo


Fontes:
http://www.al.sp.gov.br/noticia/?id=263814
http://www.biblioteca.presidencia.gov.br/ex-presidentes/getulio-vargas
http://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/AEraVargas1/anos37-45/PoliticaAdministracao/EstadoNovoFascismo
https://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/FatosImagens/PrimeiroMaio 

http://economia.estadao.com.br/noticias/geral,getulio-institui-o-salario-minimo-imp-,545453
http://www.egov.ufsc.br/portal/sites/default/files/anexos/23214-23217-1-PB.pdf
http://guiadoestudante.abril.com.br/aventuras-historia/nazismo-eles-estao-nos-434592.shtml
http://guiadoestudante.abril.com.br/aventuras-historia/veja-detalhes-ineditos-vida-getulio-vargas-729391.shtml
http://memoria.ebc.com.br/agenciabrasil/noticia/2004-08-24/ditadura-de-vargas-foi-projecao-de-hitler-franco-e-mussolini-diz-almino-afonso
http://memoria.oglobo.globo.com/erros-e-acusacoes-falsas/jornal-natildeo-conspirou-contra-getuacutelio-9471143
http://memoria.petrobras.com.br/depoentes/maria-augusta-de-toledo-tibiria-miranda/campanha-o-petroleo-e-nosso
http://oglobo.globo.com/infograficos/petrobras-60-anos/
http://revistas.unipar.br/akropolis/article/view/1890/1640
http://revistaforum.com.br/rodrigovianna/plenos-poderes/lula-poe-o-bloco-na-rua-quero-paz-e-democracia-mas-se-eles-nao-querem-nos-sabemos-brigar-tambem/
http://www.sindpd.org.br/sindpd/getulio-vargas/historia.html
http://ultimosegundo.ig.com.br/revolucao1930/alemanha+de+hitler+foi+principal+parceira+do+brasil+de+getulio/n1237772842065.html
http://www2.uol.com.br/historiaviva/reportagens/antidoto_para_a_luta_de_classes.html

O lado artista do Führer: 7 pinturas feitas por Adolf Hitler antes de seu envolvimento com o nazismo


Um dos elementos mais intrigantes da Segunda Guerra Mundial é o traço caricato, quase teatral, de tudo que envolvia a Alemanha Nazista, em especial seu líder supremo, o ditador Adolf Hitler. Ele dominava como poucos a capacidade de impactar, para o bem ou para o mal, o seu público. Suas aparições despertavam inspiração singular em todos presentes, seja para apaixonar seus seguidores ou amedrontar seus inimigos.

Especialistas sugerem que o caráter propagandístico transbordante no Terceiro Reich tenha forte ligação com o excessivo interesse de Hitler pelas artes. Amante das óperas de Wagner, ficionado pela simbologia nórdica e cheio de gananciosos projetos de reconstrução da Alemanha a partir uma arquitetura imponente, Adolf Hitler foi um jovem pintor paisagens em aquarelas. Ele chegou, inclusive, a tentar ingressar na Academia de Belas Artes de Viena, na Áustria, mas não foi aceito.

Antes de conferir algumas das pinturas feitas por Hitler antes de seu envolvimento com o nazismo, que tal observar alguns dos elementos que passaram pelos caprichos do ditador durante a guerra? 

É visível em diversos capítulos da história nazista detalhes milimétricos que parecem se conectar para algo maior. Podemos começar destacando a estreita ligação do Führer com o arquiteto Albert Speer, a quem ele deu o cargo de Ministro do Armamento. Grande apreciador da paisagem urbana e de belas obras arquitetônicas (isso é perceptível já em suas pinturas) Hitler confiou a Speer projetos imponentes para Berlim e toda a Alemanha ao fim da guerra. Berlim seria a "capital de um império que duraria mil anos" e suas construções fariam outras cidades europeias parecerem vilarejos: o chamado Grand Hall (na imagem abaixo) teria uma cúpula 16 vezes maior que a da Basílica de São Pedro, no Vaticano. Speer também projetou uma versão do Arco do Triunfo de Paris, com cerca de 120 metros de altura (o de Paris tem 50) e teria fixado em suas paredes o nome dos 1,8 milhões de alemães mortos durante a Primeira Guerra Mundial. 

(clique nas imagens para ampliar)
Maquete do redesenho de Berlim projetada pelo arquiteto Albert Speer a pedido de Adolf Hitler. "Welthauptstadt Germania" (Germania, a Capital do Mundo), como ficou conhecido o plano, previa construções em escalas nunca antes aplicadas. Especialistas afirmam que os princípios aplicados na arquitetura nazista não pretendiam somente impressionar, mas cumpriam o papel ideológico de subjugar a individualidade humana. (Foto de 1939, Acervo Pessoal de Albert Speer).

Albert Speer apresenta a Hitler uma maquete do Pavilhão Alemão projetado para a Feira Mundial de Paris de 1937. (Arquivo Federal Alemão).


Adolf Hitler e alguns dos mais importantes oficiais do Terceiro Reich
entre eles os arquitetos Albert Speer e Arno Breker (U.S/NARA).

A valorização da propaganda chegava até mesmo a interferir nas campanhas militares do Reich. É notável a valorização de objetivos simbólicos. A Tomada de Paris, teve especial significado e foi registrada nos mínimos detalhes. Houve desfiles e foram feitas fotos com os principais nomes da Alemanha Nazista. A foto de Hitler e seus oficiais marchando com a Torre Eiffel ao fundo é uma das mais famosas da história.


Em outro momento do conflito, no front oriental, nota-se a insistência na tomada de cidades cujos nomes remetiam a seus adversários: Leningrado e Stalingrado, na União Soviética, foram palco de longas e questionáveis batalhas. O inverno russo, especialmente rigoroso naquele ano de 1942, parecia não se importar com os caprichos do Führer e interrompeu a, até o momento praticamente impecável,  campanha ofensiva alemã, permitindo a virada nos quadros da guerra em favor dos Aliados.


Mas não pense que as "intervenções" de Hitler estavam limitadas a realizações megalomaníacas. Ele se preocupava até mesmo com os uniformes dos seus oficiais. A Schutzstaffel (SS), uma espécie de "tropa de elite" nazista, teve seu fardamento desenhado por ninguém menos que o estilista Hugo Boss. 


Mas não era só nos trajes que o perfeccionismo se manifestava, ele se confundia com a própria ideologia do partido nazista. Se a valorização da beleza tinha ligação ideológica, a arte tomava uma conotação propagandística. Todos os soldados da SS passavam por avaliação de características físicas, e eram selecionados também por critérios estéticos. Isso, diga-se de passagem, é uma contradição, visto que nem mesmo o próprio Hitler ou seu mais famoso propagandista, Joseph Goebbels, estavam nos padrões estéticos nórdicos tão valorizados pelo Reich (alta estatura, cabelos loiros, corpo atlético e olhos claros).

Soldados  da "SS-Leibstandarte Adolf Hitler", responsável pela proteção pessoal do Führer, em uma inspeção em Berlim, 1938. (Arquivo Federal Alemão).

Agora que já fizemos algumas considerações sobre o "legado artístico" que Adolf Hitler trouxe para a Segunda Guerra Mundial, vamos conferir 7 de suas pinturas feitas por ele entre as décadas de 1910 e 1920. 



Mas e se Hitler tivesse se tornado pintor? A história teria sido diferente?

Historiadores garantem que os acontecimentos da Segunda Guerra Mundial não foram exclusivamente dependentes da figura de um ou outro personagem histórico, mas de um contexto. O que aconteceu na Europa na primeira metade do século passado tem relação com desajustes diplomáticos seculares, antissemitismo, imperialismo e a crise do Pós-Primeira Guerra. Se não fosse Hitler, poderia ter sido diferente sim, mas não tanto. Poderia ter acontecido mais cedo ou mais tarde, poderia ter sido mais ou menos sangrento, mas a guerra não seria evitada. A Alemanha na década de 1930 era um bomba relógio e um conflito com seus adversários teria acontecido mesmo se Hitler não estivesse no comando. 


#1 - "Cartório de Registro Civil e Antiga Prefeitura de Munique" (1914)
Essa é a mais famosa obra do Hitler pintor de aquarelas. Ela foi leiloada por cerca de R$ 410 mil para um colecionador árabe. Na foto, acompanha uma nota fiscal de venda original datada de 1916. (Michael Probst/AP).

#2 - "Autorretrato" (1910)


#3 - "Maritme Noturno" (1913)


#4 - "Flores grandes e coloridas" (1912)


#5 - Teatro Nacional de Munique (1914)


#6 - "Tanque esfumaçado" (1916)


#7 - "Pátio de uma antiga residência em Munique" (1914)




Fontes: 

http://www.historytoday.com/roger-moorhouse/germania-hitlers-dream-capital
http://oglobo.globo.com/mundo/exposicao-revive-projeto-faraonico-de-hitler-para-reconstruir-berlim-14016767
http://www1.folha.uol.com.br/mundo/2013/07/1310638-fotos-privadas-de-hitler-mostram-ensaio-de-discurso.shtml
http://www.dailytelegraph.com.au/hitler-painting-fetches-32000-euros/story-fn6ccwsa-1226257320853?nk=1cf57b8b4dfc3a86a200da6ae109e88f
http://oglobo.globo.com/sociedade/historia/aquarela-pintada-por-adolf-hitler-vendida-por-410-mil-em-leilao-14635445
http://edition.cnn.com/2009/WORLD/europe/04/23/hitler.auction/index.html
http://www.museumsyndicate.com/artist.php?artist=12
http://www.dailymail.co.uk/news/article-1164780/Face-monster-Self-portrait-Hitler-painted-just-21-revealed-auction.html
http://www.telegraph.co.uk/culture/culturevideo/artvideo/11246843/Painting-by-Adolf-Hitler-expected-to-sell-for-40000.html
http://educaterra.terra.com.br/voltaire/artigos/haider.htm

Bruno Henrique Brito Lopes 
Graduando em História pela Universidade Católica de Pernambuco. 

Descubra como era o Natal na Alemanha Nazista em 15 fotos e alguns relatos intrigantes


"A essência da propaganda é ganhar as pessoas para uma ideia de forma tão sincera, com tal vitalidade, que, no final, elas sucumbam a essa ideia completamente, de modo a nunca mais escaparem dela."
Joseph Goebbels

A história da Alemanha Nazista já é famosa por ser repleta de detalhes peculiares - alguns apenas curiosos, outros extremamente assombrantes - isso se deve principalmente pelo pesar ideológico inédito que se tomou naquela experiência ultra-nacionalista. Antes de mais nada, é necessário compreender o contexto e as intenções que levaram à formação de um pensamento político tão contagiante, seja pelo amor ou pelo ódio.

Observar a postura tomada por Hitler em algumas ocasiões estratégicas pode ser um caminho para entender a lógica por trás do pensamento nazista. A celebração do Natal é um exemplo categórico de impasse ideológico que deveria ser resolvido: a festa do nascimento de Jesus Cristo, figura de clara origem judaica, era uma afronta à doutrina racista difundida pela propaganda nazista. A solução do Terceiro Reich, ao invés de eliminar a tradição tão fortemente enraizada na cultura nacional, foi substituir as referências cristãs por elementos pagãos da cultura nórdica e da simbologia do partido. As imagens presentes neste artigo são originárias de duas fontes: o acervo histórico da revista estadunidense Life, que comprou diversas coleções de fotógrafos do Reich; e uma exposição (que depois resultou em um livro) desenvolvida com base no trabalho de pesquisadores do Centro de Documentação Nacional-Socialista da cidade de Colônia, no oeste da Alemanha.

"Celebrar o nascimento de um judeu era impensável para os nazistas. Portanto, decidiram corromper o significado do Natal."
Jürgen Müller, historiador alemão

(Hugo Jaeger/Getty Images)
A ciência viveu uma explosão de entusiasmo nas primeiras décadas do século XX. Diversas práticas anteriormente realizadas sem qualquer rigor ou metodologia agora passavam pelos moldes acadêmicos. História, Antropologia, Psicologia e outros campos das Ciências Humanas eram novidades tanto quanto a chamada Eugeniatambém conhecida como darwinismo social, uma suposta ciência baseada numa visão "industrial" da Teoria da Evolução proposta pelo biólogo Charles Darwin. Com um ponto de vista modernista, os adeptos da Eugenia apoiavam o uso de métodos para manipular e "acelerar" o processo de evolução da espécie humana


Pessoas consideradas geneticamente inferiores deveriam ser eliminadas ou segregadas sistematicamente das demais, no que incluía deficientes físicos e mentais, etnias não-europeias, doenças hereditárias e tantos outros elementos fora do padrão desejado. Assim, os eugenistas esperavam que se desenvolvesse uma "raça superior" de humanos com traços genéticos cientificamente selecionados.
Festa de natal com membros do alto comando nazista, Munique, 1941. (Hugo Jaeger/Time & Life Pictures/Getty Images).


(Hugo Jaeger/Getty Images)
Diferente do que se pode imaginar, não apenas a Alemanha, mas praticamente todo o mundo ocidental, inclusive Estados Unidos e Inglaterra, flertavam com a ideia de "construir uma sociedade superior". Até mesmo o Brasil teve adeptos disseminadores dessa proposta de "aperfeiçoamento", entre eles o escritor Monteiro Lobato.

"Precisamos lançar, vulgarizar estas ideias. A humanidade precisa de uma coisa só: póda. É como a vinha."
Monteiro Lobato (1926)


Perceba a importância de atribuir data à citação do escritor brasileiro (7 anos antes da chegada do Partido Nazista ao poder na Alemanha, quase 20 anos antes da revelação dos horrores do Holocausto), ela deixa pistas para entender como se deu a falência da proposta da Eugenia: as atrocidades realizadas em seu nome durante a Segunda Guerra Mundial. Foi nesse contexto que os inimigos de Hitler começaram a buscar razões para se diferenciar do Estado Nazi-fascista, observando com um olhar mais crítico algumas de suas práticas. 


Através da Eugenia os Aliados procuraram condenar as potências do Eixo, atribuindo razões ideológicas para convencer a população de que havia a obrigação moral de vencer a guerra. A perseguição dos judeus e outras minorias foi divulgada como um crime contra a humanidade, entretanto, a opinião pública por muito tempo foi levada a crer que havia um certo "exagero" por parte do que se divulgava pela imprensa aliada. Mas com o fim da Segunda Guerra e a revelação dos campos de concentração e suas milhões de vítimas,  o mundo entrou em estado de choque, fortalecendo o discurso baseado na defesa da ética na ciência.  Era o fim da Eugenia e de outras vertentes científicas questionáveis, como o uso de cobaias humanas na Medicina. 

Festa de natal com membros do alto comando nazista em Munique, Alemanha, 1941. Era o mês de dezembro mais angustiante possível para as forças armadas alemãs, que amargavam a cada dia violentas baixas no front oriental, sofrendo diante do temido "General Inverno" russo. (Hugo Jaeger/Time & Life Pictures/Getty Images).

Esclarecida a fundamentação "científica" pela qual se baseava o partido, deve-se explorar a intensão de construção politico-ideológica por trás das medidas que foram adotadas pelos nazistas. A formação de uma "sociedade superior" deveria ser gradual, eliminando lentamente as influências indesejadas presentes em sua cultura. A coexistência com os "indesejáveis" seria cada vez menos tolerada e, ao passo que a doutrinação avançava, as leis segregacionistas se ampliavam. 

Nas escolas se ensinava às crianças que os deficientes eram improdutivos e representavam um peso a ser carregado pelo povo alemão. Até mesmo em aulas de matemática pedia-se para "calcular o prejuízo de conviver com improdutivos". Nas cervejarias circulavam folhetos em que os comerciantes judeus eram referidos como traidores e inimigos da nação, encorajando o boicote aos seus produtos e serviços. Com o tempo, espaços e serviços públicos passaram a ser proibidos para judeus, negros e outras minorias, o casamento entre "raças diferentes" já não era mais permitido. Tudo de uma maneira muito gradual, em que se plantava o ódio sem que isso parecesse um traço genocida.

O trágico fim das populações perseguidas pelo Estado Nazista já é conhecido. Mas o tema deste artigo é outro, a proposta é entender como Hitler pretendia dissolver a talvez mais consolidada referência semita na cultura alemã. Afinal, como o nazismo deveria lidar com uma religião baseada em um deus de uma "raça inferior"? Como desligar o cristianismo após a milenar convivência e construção mútua da história de seu povo? A resposta era a já usual gradualidade utilizada para tantos outros fins. 

"É inconcebível que a essência mais profunda do nosso Natal seja produto de uma religião oriental"
Friedrich Rehm, propagandista alemão (1937)

Enquanto a religião cristã permanecia inabalável, a alternativa era explorar e disseminar traços da cultura pagã nórdica no dia-a-dia da população. As cerimônias religiosas eram cada vez mais descaracterizadas, e isso se tornava escancarado no período natalino. Era a festividade mais popular do ano, cheia de adornos, canções e tradições. Assim, a propaganda oficial tratou de substituir cada referência cristã, desde trechos de músicas até os adornos presentes nas árvores. A suástica tomava o lugar da Estrela de Davi, e as referências ao paganismo (já presentes na celebração do Natal, que é um sincretismo romano) ganhavam destaque.

Decoração e presentes de Natal para serem distribuídos entre os pobres na Alemanha Nazista, 1935. Note o cartaz na parede à direita. (Autor desconhecido/Arquivo Federal Alemão).

(Von wegen Heilige Nacht)
Sob a supervisão de nomes do alto escalão da propaganda nazista, como Heinrich Himmler (enquanto Ministro do Interior) e o inconfundível Ministro da Propaganda, Joseph Goebbles, o governo procurou orquestrar as festividades fornecendo adornos com a imagem de Hitler, réplicas de granadas e suásticas, reelaborando canções tradicionais natalinas e até mesmo rebatizando o Natal com o nome de Julfest (em referência à ancestral tradição germânica de culto à luz, durante o solstício de inverno, próximo a 21 de dezembro).

"É claro que a propaganda tem um propósito. Contudo, este deve ser tão inteligente e virtuosamente escondido que aqueles que venham a ser influenciados por tal propósito nem o percebam."
     Joseph Goebbels, Ministro da Propaganda da Alemanha Nazista

Eles também buscaram redirecionar o foco do Natal de Cristo para a família, substituindo toda simbologia em torno do seu nascimento na manjedoura em Belém para figuras modelo de uma tradicional família alemã, com bebês angelicais e vestimentas típicas, sempre realizando a releitura de cenas do Natal cristão.  

Foto encontrada em um cartão postal natalino em que Hitler aparece trocando presentes com algumas crianças em Estetino, cidade na fronteira entre Alemanha e Polônia, 1939. (Autor desconhecido).

O estudo dos impactos do nazismo sobre a celebração natalina foi realizado com base em um vasto acervo documental, no que inclui uma extensa coleção privada de elementos presentes em cerimônias oficiais do governo: decorações para as árvores, canções modificadas pela propaganda, catálogos de presentes e muito mais. O trabalho deu origem a um livro e uma exposição aberta ao público, o que permitiu observar o choque de realidade sobre idosos alemães que viveram aquele momento histórico, numa mistura de nostalgia e pavor sobre uma manipulação escancarada sob o ponto de vista externo, mas imperceptível aos olhos imersos de quem viveu sob o regime.

"Geralmente, os visitantes mais idosos ficam primeiro tocados pelas lembranças infantis que os objetos reavivam. Mas gradualmente veem o propósito por trás das coisas, algo de que não se deram conta quando eram jovens. E isso os assusta: perceber o uso que se fazia das coisas, e como suas crenças de criança eram usadas para os fins de propaganda."
Barbara Kirschbaum, responsável pela exposição

O livro, Von wegen Heilige Nacht! (sem versão na língua portuguesa), ainda esclarece como a Igreja Católica, mesmo indignada com o visível esforço de descristianização do Natal, tinha pouca relevância no país desde a década de 1930, sendo raramente citada na documentação da época. E termina comentando sobre o fim da Segunda Guerra, onde o Natal de 1944 perde o sentido doutrinador e assume a condição de luto pelos rumos irreversíveis que a guerra já tomava. 

A propaganda era onipresente nas festividades nazistas, o farto acervo da exposição contém centenas de exemplares que tocam a memória de quem viveu o regime e exploram o imaginário dos mais jovens. (AFP/Getty Images).

Joseph Goebbels, Ministro da Propaganda nazista, com sua filha em uma cerimônia natalina em Berlim, capital alemã, 1935. (Autor desconhecido/Getty Images).

Adolf Hitler junto a outros oficiais nazistas durante a celebração natalina em Munique, Alemanha, 1941. (Hugo Jaeger/Time & Life Pictures/Getty Images).

Nesta outra fotografia da cerimônia de 1941 é possível identificar, além de Hitler, o segundo homem na hierarquia do Terceiro Reich, o Marechal Hermann Göring, à extrema esquerda. (Hugo Jaeger/Time & Life Pictures/Getty Images).


Essa fotografia é da mesma cerimônia das fotos coloridas da Revista Life, provavelmente foi registrada por outro fotógrafo. Note a fisionomia dos oficiais, será possível relacionar com os péssimos resultados no front oriental naquele gelado mês de dezembro de 1941? (Autor desconhecido/Getty Images).

Cerimônia de Natal com oficiais nazistas em 1944. (Autor desconhecido/Deuthes Historisches Museum).

A decoração presente na exposição dá um vislumbre obscuro das celebrações natalinas no Terceiro Reich (AFP/Getty Images).



Bruno Henrique Brito Lopes 
Graduando em História pela Universidade Católica de Pernambuco.