Um dos elementos mais intrigantes da Segunda Guerra Mundial é o traço caricato, quase teatral, de tudo que envolvia a Alemanha Nazista, em especial seu líder supremo, o ditador Adolf Hitler. Ele dominava como poucos a capacidade de impactar, para o bem ou para o mal, o seu público. Suas aparições despertavam inspiração singular em todos presentes, seja para apaixonar seus seguidores ou amedrontar seus inimigos.
Especialistas sugerem que o caráter propagandístico transbordante no Terceiro Reich tenha forte ligação com o excessivo interesse de Hitler pelas artes. Amante das óperas de Wagner, ficionado pela simbologia nórdica e cheio de gananciosos projetos de reconstrução da Alemanha a partir uma arquitetura imponente, Adolf Hitler foi um jovem pintor paisagens em aquarelas. Ele chegou, inclusive, a tentar ingressar na Academia de Belas Artes de Viena, na Áustria, mas não foi aceito.
Antes de conferir algumas das pinturas feitas por Hitler antes de seu envolvimento com o nazismo, que tal observar alguns dos elementos que passaram pelos caprichos do ditador durante a guerra?
É visível em diversos capítulos da história nazista detalhes milimétricos que parecem se conectar para algo maior. Podemos começar destacando a estreita ligação do Führer com o arquiteto Albert Speer, a quem ele deu o cargo de Ministro do Armamento. Grande apreciador da paisagem urbana e de belas obras arquitetônicas (isso é perceptível já em suas pinturas) Hitler confiou a Speer projetos imponentes para Berlim e toda a Alemanha ao fim da guerra. Berlim seria a "capital de um império que duraria mil anos" e suas construções fariam outras cidades europeias parecerem vilarejos: o chamado Grand Hall (na imagem abaixo) teria uma cúpula 16 vezes maior que a da Basílica de São Pedro, no Vaticano. Speer também projetou uma versão do Arco do Triunfo de Paris, com cerca de 120 metros de altura (o de Paris tem 50) e teria fixado em suas paredes o nome dos 1,8 milhões de alemães mortos durante a Primeira Guerra Mundial.
(clique nas imagens para ampliar)
Maquete do redesenho de Berlim projetada pelo arquiteto Albert Speer a pedido de Adolf Hitler. "Welthauptstadt Germania" (Germania, a Capital do Mundo), como ficou conhecido o plano, previa construções em escalas nunca antes aplicadas. Especialistas afirmam que os princípios aplicados na arquitetura nazista não pretendiam somente impressionar, mas cumpriam o papel ideológico de subjugar a individualidade humana. (Foto de 1939, Acervo Pessoal de Albert Speer).
Albert Speer apresenta a Hitler uma maquete do Pavilhão Alemão projetado para a Feira Mundial de Paris de 1937. (Arquivo Federal Alemão).
Adolf Hitler e alguns dos mais importantes oficiais do Terceiro Reich entre eles os arquitetos Albert Speer e Arno Breker (U.S/NARA). |
A valorização da propaganda chegava até mesmo a interferir nas campanhas militares do Reich. É notável a valorização de objetivos simbólicos. A Tomada de Paris, teve especial significado e foi registrada nos mínimos detalhes. Houve desfiles e foram feitas fotos com os principais nomes da Alemanha Nazista. A foto de Hitler e seus oficiais marchando com a Torre Eiffel ao fundo é uma das mais famosas da história.
Em outro momento do conflito, no front oriental, nota-se a insistência na tomada de cidades cujos nomes remetiam a seus adversários: Leningrado e Stalingrado, na União Soviética, foram palco de longas e questionáveis batalhas. O inverno russo, especialmente rigoroso naquele ano de 1942, parecia não se importar com os caprichos do Führer e interrompeu a, até o momento praticamente impecável, campanha ofensiva alemã, permitindo a virada nos quadros da guerra em favor dos Aliados.
Mas não pense que as "intervenções" de Hitler estavam limitadas a realizações megalomaníacas. Ele se preocupava até mesmo com os uniformes dos seus oficiais. A Schutzstaffel (SS), uma espécie de "tropa de elite" nazista, teve seu fardamento desenhado por ninguém menos que o estilista Hugo Boss.
Mas não era só nos trajes que o perfeccionismo se manifestava, ele se confundia com a própria ideologia do partido nazista. Se a valorização da beleza tinha ligação ideológica, a arte tomava uma conotação propagandística. Todos os soldados da SS passavam por avaliação de características físicas, e eram selecionados também por critérios estéticos. Isso, diga-se de passagem, é uma contradição, visto que nem mesmo o próprio Hitler ou seu mais famoso propagandista, Joseph Goebbels, estavam nos padrões estéticos nórdicos tão valorizados pelo Reich (alta estatura, cabelos loiros, corpo atlético e olhos claros).
Soldados da "SS-Leibstandarte Adolf Hitler", responsável pela proteção pessoal do Führer, em uma inspeção em Berlim, 1938. (Arquivo Federal Alemão).
Agora que já fizemos algumas considerações sobre o "legado artístico" que Adolf Hitler trouxe para a Segunda Guerra Mundial, vamos conferir 7 de suas pinturas feitas por ele entre as décadas de 1910 e 1920.
Agora que já fizemos algumas considerações sobre o "legado artístico" que Adolf Hitler trouxe para a Segunda Guerra Mundial, vamos conferir 7 de suas pinturas feitas por ele entre as décadas de 1910 e 1920.
Mas e se Hitler tivesse se tornado pintor? A história teria sido diferente?
Historiadores garantem que os acontecimentos da Segunda Guerra Mundial não foram exclusivamente dependentes da figura de um ou outro personagem histórico, mas de um contexto. O que aconteceu na Europa na primeira metade do século passado tem relação com desajustes diplomáticos seculares, antissemitismo, imperialismo e a crise do Pós-Primeira Guerra. Se não fosse Hitler, poderia ter sido diferente sim, mas não tanto. Poderia ter acontecido mais cedo ou mais tarde, poderia ter sido mais ou menos sangrento, mas a guerra não seria evitada. A Alemanha na década de 1930 era um bomba relógio e um conflito com seus adversários teria acontecido mesmo se Hitler não estivesse no comando.
#1 - "Cartório de Registro Civil e Antiga Prefeitura de Munique" (1914)
Essa é a mais famosa obra do Hitler pintor de aquarelas. Ela foi leiloada por cerca de R$ 410 mil para um colecionador árabe. Na foto, acompanha uma nota fiscal de venda original datada de 1916. (Michael Probst/AP).
#2 - "Autorretrato" (1910)
#4 - "Flores grandes e coloridas" (1912)
#5 - Teatro Nacional de Munique (1914)
#6 - "Tanque esfumaçado" (1916)
#7 - "Pátio de uma antiga residência em Munique" (1914)
Fontes:
http://www.historytoday.com/roger-moorhouse/germania-hitlers-dream-capital
http://oglobo.globo.com/mundo/exposicao-revive-projeto-faraonico-de-hitler-para-reconstruir-berlim-14016767
http://www1.folha.uol.com.br/mundo/2013/07/1310638-fotos-privadas-de-hitler-mostram-ensaio-de-discurso.shtml
http://www.dailytelegraph.com.au/hitler-painting-fetches-32000-euros/story-fn6ccwsa-1226257320853?nk=1cf57b8b4dfc3a86a200da6ae109e88f
http://oglobo.globo.com/sociedade/historia/aquarela-pintada-por-adolf-hitler-vendida-por-410-mil-em-leilao-14635445
http://edition.cnn.com/2009/WORLD/europe/04/23/hitler.auction/index.html
http://www.museumsyndicate.com/artist.php?artist=12
http://www.dailymail.co.uk/news/article-1164780/Face-monster-Self-portrait-Hitler-painted-just-21-revealed-auction.html
http://www.telegraph.co.uk/culture/culturevideo/artvideo/11246843/Painting-by-Adolf-Hitler-expected-to-sell-for-40000.html
http://educaterra.terra.com.br/voltaire/artigos/haider.htm
Graduando em História pela Universidade Católica de Pernambuco.